domingo, 6 de fevereiro de 2011

O enigma do sino
















Ele continuava preso na armadilha de sonho. Cada vez que acordava as imagens, as sensações eram mais dissonantes e perturbadoras. Os rostos de seus amigos se difundiam, se confundiam e se misturavam. Sua falecida namorada saía do umbigo dele para ser posteriormente tragada involuntariamente por narinas. Era tudo estranho e perturbador. Nada fazia sentido.

Foi preciso um lapso de criatividade para que o enigma do paradoxo se resolvesse. Já entediado com tudo aquilo, o jovem começou a tentar moldar as imagens que via, juntando-as e separando-as com o movimento de seus braços. Começou a fazer objetos simples, como martelos, cadeiras, paredes, buracos e portas. Depois coisas mais elaboradas como, bicicletas, pássaros, árvores, relógios. Mas era tudo silencioso e efêmero. Surgiu então a ideia de fazer um sino. Juntou alguns pensamentos de metais que conhecia e forjou um enorme sino de ouro. Mas o objeto era tão grande e pesado que mal conseguia fazê-lo se mexer. Foi então que imaginou esse mesmo sino dependurado, alguns metros acima dele. Por fim imaginou uma corda atada ao pêndulo do pesado sino de ouro e, como uma criança, dependurou-se no sino, que produziu estrondosas baladas. Uma após a outra elas faziam tremer tudo que estava em volta. O nada tremeluzia e os pensamentos anteriores de Lázaro caiam ao chão, se estilhaçando em mil pedaços. No entanto, ele continuava dependurado. O sino batia cada vez mais forte, o som era cada vez mais terrível. O jovem sentia a corda vibrar cada vez mais intensamente. Foi então que a corda sumiu, o sino sumiu e Lázaro, também, sumiu.

Acordou com fortes badaladas de um sino distante, estava num sujo banco de praça numa manhã ensolarada. Ao fundo os sinos duma igreja tocavam alegremente. Muitas pessoas transitavam pela praça. Lázaro percebeu que, finalmente, havia se libertado do paradoxo. Havia resolvido o enigma.

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