domingo, 2 de janeiro de 2011

Enfrentando o Paradoxo


As coisas do dia a dia aos poucos perdiam o sentido para o nosso heroi. Com treino e meditação, ele pode explorar mais e mais o mundo dos sonhos. Muito embora sua mente fosse bem clara e muito vazia de objetos e reminiscências, Lázaro percebeu que a mente dos outros eram pequenos, mas infinitos universos.

Viajar por seus sonhos era fácil e monótono. Lázaro já os conhecia bem. Não obstante, cruzando o subconsciente humano ele descobriu as portas e as janelas que conectam todas as mentes das almas vivas. Isso permitiu a Lázaro vislumbrar toda a infinitude de ideias e conceitos que habitam o subconsciente coletivo.

Com o tempo, ele se entediou com sua vida mundana. Passou a viajar cada vez mais pelo mundo dos sonhos. Deixou de dar importância para o tempo em que passava acordado as pessoas, todas lúcidas ao seu lado. Certo dia em um café, conversando com seu amigo Sérgio, passou a falar de suas viagens oníricas e de suas descobertas dos mais perturbadores pensamentos humanos. A princípio Sérgio encarou-o com bom humor, pois conhecia a personalidade de seu amigo. No entanto, os minutos foram passando e Sérgio começou a se sentir desconfortável com as frases sem sentido de Lázaro, que contava sem meias palavras como fazia para entrar nos sonhos das pessoas. Mas sabia ele que isso traria um efeito colateral.

Após um tempo de sua explanação perturbadora, como que num estalo, Lázaro sentiu uma mudança no ar. Olhou para a janela do café e viu nuvens cinzas se aglomerarem rapidamente. Raios reluziam conforme as nuvens mudavam de forma.

- Lázaro! Lázaro! - ouviu ele um chamado. Era Sérgio. Mas sua voz não saia de sua boca, que estava imóvel, mas vinha de longe, ecoando como se saísse do fundo de uma caverna.

- Lázaro! Lázaro! - novamente o chamado replicava. Lázaro sentiu uma vertigem, estava atordoado. A mesa, a xícara, a janela, tudo parecia derreter e borrar aos olhos dele. Sérgio já não era mais Sérgio. Ele era um ser sem forma, com olhos que mudavam de tamanho aleatoriamente. Sua boca e seu nariz dançavam pelo rosto que afinava e engrossava, acompanhando pulsações dissonantes. A janela se abriu, o vento entrou pelo café, e era ele tão forte que carregou papéis, xícaras, cadeiras, mesas, Sérgio, tudo.

- Lázaro! Lá...zaro! Lá...za...ro! - ele acordou.