sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O velho e o jardim

Era um antigo prédio da cidade. Antigo, mas alto o suficiente para se destacar entre as construções do centro velho. Suas janelas opacas e suas varandas quadradas lembravam do tempo em que lá se faziam importantes negócios. Embora aparentemente abandonado, era esse o endereço indicado por Sérgio.

Quando abriu a portinhola que dava acesso ao terraço do prédio, Lázaro se deparou com um imenso e esplendoroso jardim. Dezenas de variedades de plantas tropicais enchiam de cor e vida o topo do antigo edifício.

Ao fundo, o jovem pode ver um senhor de barbas brancas, chapéu e roupas rústicas cuidando do precioso jardim. Com uma certa lentidão, Lázaro venceu os galhos e arbusto, podendo se aproximar do velho após alguns instantes.

- Há muito esperava por você, meu jovem.

Lázaro não conseguia esboçar qualquer reação, aquele velho de rosto fustigado pelo sol era-lhe estranhamente familiar. Era como se conhecesse o velho em alguma outra ocasião. Toda aquela situação dava ao rapaz uma sensação de torpor.

- Lázaro, você foi despertado no acidente que sofreu. Embora tenha sofrido muito, agora pode enxergar a verdade. Você agora pode manipular o que se vê e o que se sente.

Continuou o velho:

- Isso é muito bom para você. Mas saiba que chegará um dia em que passado será futuro e que a justiça estará contra o amor. E nesse dia você lembrará da tristeza da existência.

Após dizer tais coisas, o velho voltou-se a uma pequena planta, concentrando-se no lento trabalho de retirar dela todas as ervas daninhas.

- Mas como assim? O que eu devo fazer?

Sem retirar os olhos da planta, o velho respondeu:

- Lembra dos seus sonhos..? Pois então, neles você pode viajar livremente, assim como pode chegar nos sonhos alheios. Quando se der conta, estará você no meio de todos os sonhos da coletividade. Esse é um dom que trará grandes mudanças em sua vida.

- Qual é o nome do senhor? - perguntou Lázaro.

- Por hora, basta o que eu lhe disse. Vá, e experimente suas novas habilidades.

Após dizer isso, o velho oráculo não lhe deu mais atenção. Com isso Lázaro pensou haver somente duas hipóteses: ou o velho compartilhava de sua loucura, ou tudo isso que o velho falou estava realmente acontecendo.

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